quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

RELIGIÃO X FÉ


                





                  Eu lembro-me de quando eu era adolescente e ir à igreja era um ritual diário, obrigatório e indiscutível. Ali pelas seis horas da tarde minha mãe obrigava meu irmão e eu a interrompermos as brincadeiras e irmos tomar banho para nos enfiar dentro de calças que há muito já não nos servia e de camisas de manga longa, com os punhos dobrados até abaixo do cotovelo. Muitas pessoas me chamavam ironicamente de "pastorzinho" e eu, obviamente, odiava. Na maioria das vezes eu conseguia me esconder da visão da minha mãe e, na primeira oportunidade, fugia da igreja e ia pecar. Os meus pecados mais tarde, quando eu já os tinha cometido, me pareciam imperdoáveis e eu me debatia com eles, arrependido, mas com a certeza de que no dia seguinte eu pecaria novamente. É importante ressaltar que pecado, na opinião de minha mãe que sempre foi uma cristã rígida de pudores exagerados, nada mais era do que ir para a casa de alguns poucos moradores, vizinhos à igreja, que possuíam televisão e assistir programas como "Os Trapalhões" ou a novela das sete. Para ela a televisão, definitivamente, era uma invenção do diabo.
                Na época eu ainda não sabia, mas eu sempre tive uma certa aversão a religiões e a igrejas. Embora eu sempre tenha acreditado em Deus, com toda a fé que eu conseguia ter, eu sempre preferi conversar com ele no silêncio da noite, sozinho no meu quarto, sem intermediários que cometiam pecados maiores do que assistir televisão. Ainda hoje eu não sou adepto de religiões e igrejas, mas a cada dia acredito mais em Deus, na sua proteção, no seu amor e na comunhão que tenho com Ele quando estou sozinho no quarto e conversamos os dois. Hoje eu cometo pecados muito maiores, descobri que eles aumentam com a idade, entretanto, ainda acho que não mereço ser julgado e, quase sempre condenado, por pecadores como eu. Quando eu peco, Deus sussurra no meu ouvido e me faz sentir culpado e arrependido, embora ainda hoje, eu saiba que, querendo ou não, eu irei pecar novamente, mesmo que sejam pecados diferentes.
                 Me lembro da última vez em que entrei em uma igreja em Lisboa, me sentindo fraco, sozinho, derrotado e sem fé. Quando ouvi o sermão do pastor minha alma começava a se sentir mais serena, porém, cinco minutos depois o assunto principal do sermão se transformou em reformas e contas a pagar e na necessidade que os presentes tinham de contribuir com o máximo de dinheiro que pudessem, com a promessa de que seriam amplamente recompensados. Eu nunca soube como o culto terminou, me levantei e saí com a alma ainda mais cansada do que antes, nunca mais entrei numa igreja.
               Os vídeos sobre pastores e religiosos charlatães que, inúmeras vezes, encontro sem querer na internet me fazem lembrar de tudo isso, dos meus tempos de adolescente sendo chamado de pastorzinho, da fé imbatível que minha mãe possuía e ainda possui, da inocência e obediência dela às "regras" ditadas pelos dirigentes da igreja e da última vez que pensei que pudesse sentir conforto através das palavras de um pastor.
                 Sei que não é regra que todos os pastores sejam tão desprezíveis como esses dos vídeos, sei que nem todos os padres escondem pecados terríveis debaixo da batina, sei que nem todas as religiões que não entendemos são demoníacas... Mas esses vídeos me fazem pensar que, talvez, seja mesmo mais fácil encontrar Deus no meu silêncio, quando sussurro as minhas orações no escuro do quarto. Vendo pessoas assim - que enganam os mais ingênuos, que enriquecem vergonhosamente com o dinheiro de quem mal tem pra comer, que usam o nome de Deus para extorquir, enganar, roubar e prejudicar pessoas carentes e humildes - eu sinto meus pecados triplicarem e tornarem-se gigantes, pois ódio e ira, são pecados que certamente me invadem nesse momento. Desejar o mal para um semelhante, nesse caso, não deveria ser pecado, pois, que tipo de mal seria suficiente para pessoas que usam o nome de Deus para justificar tais atos? A verdade é que cenas como essas me fazem ter saudades de quando a igreja era um local de adoração e de busca de conforto, de quando a fé era mais importante do que a ganância e de quando eu nem sabia que tinha tanta aversão a igrejas, a religiões e a falsos profetas.




Ai de vós, quando todos os homens vos louvarem! porque assim faziam os seus pais aos falsos profetas.








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