Ela andava do lado dele praticamente sem respirar... Tinha medo de respirar e sentir o seu cheiro, aquele cheiro que entrava em suas narinas e fazia com que, de repente, sua garganta se fechasse, sua respiração acelerasse de uma forma incontrolável, lhe causando a sensação de que iria morrer. Aquele cheiro que chegava ao seu estômago, onde milhões de borboletas pareciam voar, num frenesi de asas e cores, num espetáculo delirante, inesquecível e, ao mesmo tempo, aterrador. Mesmo agora ela podia sentir o bater de asas coloridas em seu estômago, e então, prendia mais a respiração. Seus olhos miravam um lugar muito distante, além de tudo o que ela podia ver, se desviando dele e ao mesmo tempo, vez por outra, correndo para ele, através de olhares furtivos, apressados, urgentes, medrosos... E cada vez que, pelo canto dos olhos, ela via sua imagem, as borboletas levantavam o vôo até o mais alto céu de seus sonhos e lhe provocavam sensações que ela nunca, jamais, poderia definir. De repente, no bambolear dos passos que se seguiam lado a lado, os dedos deles se tocaram e ela sentiu o seu calor, sentiu sua pele quase fazendo parte da dela e quis tirar a mão, quis se afastar, mas algo a prendia naquele toque que durou um segundo, mas significou uma vida inteira. Eles caminhavam em silêncio, sem direção definida, sem destino, o tempo e o lugar agora eram as coisas menos importantes em um mundo repleto de coisas sem importância. Ela queria dizer algo, pretendia parecer inteligente, queria saber suas opiniões, ouvir suas histórias... Mas ficou em silêncio, porque sabia que às vezes o silêncio é bem melhor interpretado. Ele também queria dizer algo, queria parecer inteligente, saber coisas sobre ela, ouvir suas histórias... Mas ele também ficou em silêncio, porque não queria perder o momento, tinha medo que as palavras estragassem tudo e, além disso as borboletas, que também dançavam dentro dele, não lhe permitiam falar. Então, sem nenhum aviso, sem nenhuma palavra, sem nenhuma combinação prévia, eles pararam e se olharam nos olhos, os dele azuis como um mar sem ondas, espelhados nos dela, negros como uma noite sem estrelas... Ficaram assim um longo tempo, que não passou de um minuto, e depois sorriram. E então eles souberam que estavam perdidos para sempre, presos no olhar um do outro, silenciados pelo sorriso um do outro...Amando irremediavelmente um ao outro.
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