Eu abro os meus olhos e vejo a manhã através da janela. O sol tenta rasgar a neblina com raios mornos e preguiçosos, enquanto o frio luta para estabelecer o domínio sobre a manhã. O final de semana chegou e não há nada de especial para fazer, nenhum amigo para visitar, nenhuma comemoração importante, nenhum plano para colocar em prática... Como ontem, como na semana passada, como no último mês. Nostalgia... Saudade... Frustração... Medo... Tudo se mistura dentro de mim formando um caleidoscópio de cores que eu acabei de criar. Thomas Edison inventou a lâmpada incandescente, Santos Dumont (ou os irmão Wright?) inventou o avião, Alexander Graham Bell inventou o telefone, eu, invento cores. Com elas tento pintar a manhã. Pinto raios de sol mais dourados, desenho pessoas felizes, crio pássaros em vôos acrobáticos... Mas não consigo alterar a cor da manhã, tá tudo cinza lá fora.
Fecho as cortinas e a noite parece ter se apossado do quarto. Acendo as luzes... Apago... Abro a cortina novamente. Fico olhando para um ponto qualquer fixamente, o pensamento viajando pelo espaço, sem rumo, sem parada. A janela parece ser agora a torre onde um feiticeiro me trancou, meu quarto é minha prisão, meu mundo, minha vida... E eu vivo bem aqui dentro, mas é necessário sair se quero conhecer novos e mágicos mundos. Claustrofobia, paranóia, loucura... O que significam essas palavras que tentam penetrar minha mente? Separo suas sílabas e junto com outras, formando novas palavras: claustrocura, curanóia, paratrofobia... Sorrio da normalidade dos homens que passam lá fora e dos novos nomes que posso atribuir à sua suposta perfeição: "fulano é uma pessoa muito normal, ele chega a ser paratrofóbico, de tão normal que é." Desvio o pensamento do presente e volto ao passado, onde encontro a saudade de velhas coisas, pessoas e acontecimentos que eu não me lembrava mais, será que tudo isso aconteceu? Quero voltar, quero sair, quero acordar em outro lugar, mas a porta da torre tem grades de ferro e os cadeados são novinhos em folha. Sou resgatado do passado por um pássaro que vem pousar na janela e olha pra mim sem medo, depois abre as asas e pula em direção a um abismo invisível, mas ele muda de direção no momento exacto do choque fatal e em seu vôo corta a manhã em direção ao alto, ao céu, aos raios mornos do sol. Agora eu olho novamente no infinito e vejo o futuro, está distante, longe muito longe, atrás de uma grande montanha coroada por um arco-íris quase transparente. Deve ter chovido em algum lugar do planeta. Aqui, as nuvens começam a dissiparem-se, o sol e o frio fizeram um acordo em que um deixa a manhã dourada, sem que o outro, contudo, tenha que ir embora, e o pássaro regressa do alto com muitos outros pássaros, todos em vôos rasantes e acrobáticos. Eu olho de novo para o futuro lá longe e decido tentar abrir novamente a porta da torre. Ao simples toque os cadeados se rompem e eu descubro que eu só precisava tentar. Então abro a porta, e saio do quarto, deixando em cima da mesa minha loucura e, em total desordem, as palavras clauronóia, troulonóia e paratrofo.
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