Se eu quiser falar com Deus...

Depois de passadas as eleições (pelo menos onde não houver segundo turno) eu fico pensando no tempo que as pessoas (principalmente de pequenas cidades) perdem se ofendendo mutuamente, se acusando injustamente (ou não) e machucando as outras pessoas durante essa época. Provavelmente essas pessoas pensam que depois desses irritantes meses de campanha eleitoral é só falar com Deus, pedir perdão por ter esquecido alguns dos seus mandamentos (como "amar o próximo como a ti mesmo", "não julgarás"), e tudo voltará a ser como antes. Realmente elas se esquecem que falar com Deus é uma coisa sublime, para que Ele possa nos ouvir é preciso acima de tudo que falemos com o coração. Para falar com Deus e, sobretudo, para que Ele nos ouça é necessário algo que a maioria de nós perde nessa época de eleição: a humildade e a sabedoria. Pensando nisso, bem que poderíamos nos inspirar na bela canção de Gilberto Gil e aprendermos a falar com Deus, assim quem sabe não nos purifiquemos e aprendamos algo que nos impeça de transformar as próximas eleições em batalhas onde as armas sejam as ofensas, o ódio e as acusações...

Se eu quiser falar com Deus

Se eu quiser falar com Deus

Tenho que ficar a sós

Tenho que apagar a luz

Tenho que calar a voz

Tenho que encontrar a paz

Tenho que folgar os nós

Dos sapatos, da gravata,

Dos desejos, dos receios...

Tenho que esquecer a data

Tenho que perder a conta

Tenho que ter mãos vazias

Ter a alma e o corpo nus.

Se eu quiser falar com Deus

Tenho que aceitar a dor

Tenho que comer o pão

Que o diabo amassou

Tenho que virar um cão

Tenho que lamber o chão

Dos palácios, dos castelos

 

Suntuosos do meu sonho

Tenho que me ver tristonho

Tenho que me achar medonho

E apesar de um mal tamanho

Alegrar meu coração.

Se eu quiser falar com Deus

Tenho que me aventurar

Tenho que subir aos céus

Sem cordas pra segurar

Tenho que dizer adeus

Dar as costas, caminhar Decidido

 

pela estrada

Que ao findar vai dar em nada

Nada, nada, nada, nada

Nada, nada, nada, nada

Nada, nada, nada, nada

Do que eu pensava encontrar...

Gilberto Gil