segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

ERA UMA VEZ... EU E O MEDO.


Ultimamente o medo tem se tornado uma presença muito constante em minha vida, ele chega sem ser convidado e, quando eu percebo, já está acampado na sala de estar das minhas emoções, bebendo do licor doce servido pelos meus sonhos, rindo e zombando dos meus planos, como se fosse o dono absoluto do meu mundo. A coragem e a força que têm me acompanhando até hoje, olham pra ele com desconfiança, dão um passo atrás e se escondem atrás de mim, sem forças para encará-lo. Sem que eu consiga resistir, o medo me abraça, me envolve, me dá conselhos, me aponta caminhos pelos quais, segundo ele, eu não devo seguir. Começo a ter tanto medo!  Repentinamente me vejo tendo medo de coisas banais, como medo de me esquecer como é sorrir, medo de não reconhecer o rosto das pessoas que eu amo, medo de terremotos e de outras catástrofes naturais, medo de dormir ou de não mais acordar. Tenho medo de mim...Muitas vezes sinto um medo extremo de mim. Geralmente o medo é silencioso, enigmático, discreto, mas ultimamente ele se torna escandaloso quando está na minha presença, eu diria até que bastante vulgar. Ri alto, zomba, critica e, finalmente, finge, sussurra, adula... Ele me assusta ao mesmo tempo que tenta me acalmar. Quando me visita, o medo não quer mais ir embora, faz morada, traz mudança, escolhe o quarto mais amplo de minha vida, pra sentir-se senhor de mim. E, quando se sente instalado e completamente confortável ele começa a me impedir de lutar contra meus ideais, me diz pra eu ter medo de coisas como falsidade, preconceito, exploração e até de pequenas decepções. Diz que eu não posso, que eu não consigo, que eu não alcanço... Diz que eu nunca vou chegar lá. Aliás, essa é uma de suas palavras preferidas, que ele faz ecoar pelos quatro cantos, aos brados: nunca...nunca...nunca... 

 
           Aos poucos, porém, o medo vai mostrando cansaço, afinal, ele até consegue fazer a força e a coragem darem alguns passos atrás, mas ele nunca conseguiu fazê-las me abandonarem. Ele, então, desiste de me aterrorizar, se encolhe, fica ali parado no canto da minha vida, aguardando o momento em que eu deixe ele tomar conta de tudo, e como a sabedoria me disse que até o medo pode ser útil de vez em quando eu o deixo ficar, recolhido à sua existência limitada, afinal, eu também tenho medo de o mandar partir e de, um dia, não ter mais medo de nada.


*ERA UMA VEZ...



...Mas eu me lembro como se fosse agora... Eu queria ser trapezista, minha paixão era o trapézio. Me atirava do alto na certeza que alguém segurava-me as mãos não me deixando cair.


Era lindo mas eu morria de medo, tinha medo de tudo quase: cinema, parque de diversão, de circo, ciganos... Aquela gente encantada que chegava e seguia. Era disso que eu tinha medo, do que não ficava pra sempre.


Era outra vez outro parque, outro circo, ciganos e patinadores.



O circo chegou à cidade, era uma tarde de sonhos e eu corri até lá. Os artistas se preparavam nos bastidores para começar o espetáculo e eu entrei no meio deles e falei que queria ser trapezista.



Veio falar comigo uma moça do circo que era a domadora, era uma moça bonita, mas era uma moça forte, era uma moçona mesmo. Me olhou, riu um pouco e disse que era muito difícil mas que nada era impossível.


Depois veio o palhaço Polly,


  veio o Topsy, veio Diderlang que parecia um príncipe,



 o dono do circo, as crianças, o público...






De repente apareceu uma luz lá no alto e todo mundo ficou olhando, a lona do circo tinha sumido e o que eu via era a estrela Dalva no céu aberto.


Quando eu cansei de ficar olhando pro alto e fui olhar para as pessoas, só aí eu vi que estava sozinha.





*Texto de Antônio Bivar, recitado por Maria Bethânia  no disco Drama 3º Ato, de 1973.

2 comentários:

  1. Só enfrentando nossos maiores medos para realmente nos conhecermos; através dos desafios conhecemos nossos limites, toda nossa capacidade e força. No fim, nos surpreendemos com uma pessoa que até então não sabíamos que existia: um ser guerreiro e ilimitado, morando dentro de nós.
    Parabéns, postagem ótima
    Bjuss

    Andreia

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    Respostas
    1. É verdade, nem nós mesmos temos consciência da força e da coragem que temos até que precisamos delas, geralmente, somos muito mais fortes do que imaginamos. O medo faz parte, mas no final, percebemos sempre que ele não tinha razão de existir e a melhor forma de chegarmos a essa conclusão é, realmente o enfrentando. Obrigado pelo comentário Andréia. Abração.

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